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Edição 24 – Janeiro – 2023

ENTRELAÇAMENTOS DE PRÁTICAS E FORMAÇÃO DOCENTE: POLÍTICAS, CURRÍCULOS, LINGUAGENS E CULTURAS

 

A educação formal e a escola cumprem função de socialização e incorporação do indivíduo aos padrões culturais da sociedade onde esse indivíduo se insere. Essa função é cumprida através de uma série de metodologias, seleções, normas, projetos, organizações curriculares, formações, legislações, entre tantos outros elementos, que trazem em si concepções ideológicas e políticas que estão colocadas naquele espaço-tempo histórico. Ou seja, para cada momento histórico poderemos distinguir elementos característicos que vão influenciar a educação, a escola, os professores, e os estudantes.

Uma vez que a educação e a escola são produtos culturais de seu tempo, são historicamente construídos, eles abrigam em si as marcas das concepções de educação, de ensino, de sociedade, bem como ideologias e formas de pensar/agir considerados adequados naquele espaço-tempo cultural. Esse percurso de construção leva para a educação e para a escola elementos sociais importantes de preservação do patrimônio cultural. Porém, essa construção também leva elementos questionáveis para dentro da escola, como segregação, racismo, heteronormatividade e outros, que deveriam ser problematizados em sua permanência e reprodução.

O exercício da docência e a formação do professor também são tributários da construção sócio-histórico-cultural, lidando tanto com a preservação do patrimônio cultural quanto com os elementos de reprodução da sociedade. António Nóvoa (1991, p. 441) coloca que “a profissão docente está intimamente articulada com uma prática e um discurso sobre as finalidades e os valores da sociedade. Os professores […] são portadores de uma mensagem cultural e social e desempenham uma profissão carregada de intencionalidade política e ideológica”.

Este dossiê intitulado “Entrelaçamentos de práticas e formação docente: políticas, currículos, linguagens e culturas”, parte desta concepção – da educação como um processo contínuo de construção/desconstrução/reconstrução mediado pelos intervenientes sócio-histórico-culturais – e pretende abrir um espaço de discussão sobre políticas, currículos, linguagens e culturas explicitadas ou subsumidas em situações, espaços, documentos, propostas, metodologias, formações e discursos.

Foi organizado com textos selecionados entre autores que têm como ponto de contato a formação na Universidade Federal do Mato Grosso do SUL (UFMS) e a vinculação a dois Grupos de Pesquisa existentes nessa Universidade: o Grupo de Estudos e Pesquisas Currículo, Cultura e História (GEPEH/UFMS), que tem como líderes as professoras Maria Aparecida Lima dos Santos e Maria de Fátima Xavier da Anunciação de Almeida, ambas da Faculdade de Educação (FAED/UFMS); e o Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação e Práticas Docentes (FORPRAT/UFMS) e tem como líderes as professoras Márcia Regina do Nascimento Sambugari e Patricia Teixeira Tavano, ambas do Campus Pantanal (CPAN/UFMS).

É interessante sinalizar que esses autores são um entremeado de formações e experiências, e abarcam desde pesquisadores iniciantes a pesquisadores muito experientes, pois a intenção é exatamente dar voz à diversidade, às várias maneiras de se pensar e refletir sobre a educação, à docência, a escola, discutindo a formação e a prática docente através de políticas, currículos, linguagens e culturas.

Nosso percurso começa com a produção do conhecimento no artigo “História Oral e Ensino: registro de entrevistas para análise de práticas docentes”, de Suzana Lopes Salgado Ribeiro. Segue para a discussão de elementos constitutivos da Educação e da Escola, explicitando currículos, políticas e culturas nos artigos: “Sala de aula/território”, de Patricia Teixeira Tavano; “A integralidade nas escolas das águas: consolidando rotinas educativas”, de Dilson Esquer; “A Lei 10.639/03 em sala de aula e o mito da democracia racial”, de Melina Lima Pinotti; “Tensões possíveis entre literatura surda e literatura ouvinte”, de Carlos Roberto de Oliveira Lima; e “Projetos de Educação Física na escola: possibilidades para pensar a educação social no ambiente escolar”, de Sérgio Guilherme Ibañez.

Partimos então para o debate da formação e prática docente nos artigos: “Projeto de aulas abertas: defesa da formação docente e da educação pública”, de Maria de Fátima Xavier de Anunciação Almeida e Indaya de Souza Nogueira; “A precarização do trabalho docente e a Base Nacional Comum de formação de professores (BNC-FP)”, de Ana Karolinna Rodrigues Moraes; “Sentidos do aprender a escrever e práticas em sala de aula: ensino de história e identidade”, de Daniele dos Santos Barreto; e “Formar-se professor no âmbito PIBID” de Marielli Vilalva de Jesus.

Espero que aproveitem o percurso que apresentamos aqui!

Referência Bibliográfica

NÓVOA, Antonio. Para o estudo sócio-histórico da gênese e desenvolvimento da profissão docente. Teoria e Educação. v. 4, p. 109-139, 1991.

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